sexta-feira, 17 de maio de 2019

AS VIDAS NASCEM DAS MÃOS DE DONA TEÓFILA




Teófila Michels Vanderlinde nasceu em 11 de fevereiro de 1908, na região de Laguna. Após seu casamento com Carlos Vanderlinde, veio morar no Núcleo Colonial de Anitápolis, mais especificamente na região do Maracujá. Sua vocação como parteira surgiu através da necessidade de uma família de vizinhos alemães. Dona Teófila foi chamada para auxiliar uma moça que estava em trabalho de parto.


Foto do casal Teófila e Carlos Vanderlinde.
Fonte: Acervo Familiar. 

Após o sucesso da realização do primeiro parto na década de 1930, Dona Teófila passou a ser chamada frequentemente para a realização dos mesmos. Depois de alguns anos, a parteira morou na região do Povoamento e fixou residência no centro de Anitápolis.

Dona Teófila foi uma das maiores parteiras da região, segundo a família foram mais de (03) três mil partos realizados nos municípios de Anitápolis, Santa Rosa de Lima e Alfredo Wagner. Sempre que havia a necessidade, Dona Teófila estava pronta para atender as crianças e gestantes da região, sem olhar se era noite ou dia, se era de sol ou chuva. Algumas vezes as viagens eram de charrete, cavalo ou até mesmo a pé. Mais tarde, de acordo com a disponibilidade financeira da família da gestante, era contratado o senhor Bertoldo Passig para conduzir a parteira até a casa da gestante, o transporte era feito de Fusca ou de Jeep.
Os trabalhos de Dona Teófila sempre foram realizados de forma voluntária, as famílias das gestantes ajudavam com que tinham e quando podiam. Os familiares das gestantes presenteavam a parteira com os mais variados itens da colônia, ovos, galinhas, leitões, entre outros. Era uma forma de reconhecimento por todo o carinho e atenção de Dona Teófila.
O amor da parteira era tão grande pelas gestantes e crianças da região que ela utilizava muitas vezes das próprias vestes para fazer fraldas para os recém-nascidos. Mais tarde, Dona Teófila criou em sua própria casa um local para receber as gestantes da região. Em entrevista com seu filho Deonisio Vanderlinde, ele conta que era uma casa com (07) sete quartos e que durante alguns períodos do ano, cinco quartos da casa estavam lotados com gestantes.
Dona Teófila era muita segura em seus partos, após o acolhimento em sua casa de obstetria improvisada, ela fazia todo o acompanhamento das gestantes. Somente realizava o parto normal ou natural, casos de cesarianas eram encaminhados diretamente para o Hospital Carmela Dutra. Dona Teófila enviava um telegrama e logo em seguida encaminhava a gestante para a realização da cirurgia.


 Foto de Dona Teófila em sua residência.

Acervo da Família





A parteira Teófila era muito respeitada pela equipe médica do Hospital Carmela Dutra devido à realização de um elevado número de partos e também por alguns fatos marcantes. Um fato foi o nascimento de uma criança com má formação do corpo, algo que impressionou tanto que tornou-se fonte de estudo no Hospital Carmela Dutra.
Outro fato foi uma moça que fez uma cesárea no Hospital Carmela Dutra e procurou Dona Teófila com fortes dores abdominais, após a parteira examinar a moça, constatou que havia algo estranho dentro de sua barriga. A moça foi encaminhada as pressas para o Hospital Carmela Dutra, após muita conversa Dona Teófila convenceu a equipe médica para realização da cirurgia, eles afirmavam que não tinha nada de errado com a moça. Dona Teófila participou da cirurgia, para surpresa da equipe médica a suspeita de Teófila era real, dentro da barriga da moça tinha sido esquecida uma tesoura de procedimento e uma gaze.
A partir desse acontecimento Dona Teófila tornou-se ainda mais respeitada, pelos moradores da região e por toda a equipe médica do Hospital Carmela Dutra.

Teófila aprendeu a realizar partos por meio da prática, com ajuda de alguns livros escritos em alemão tentou aperfeiçoar-se ainda mais na área da obstetria. Os partos realizados pela parteira eram diferentes dos métodos atuais, ao invés das mulheres deitarem para terem seus filhos, elas ficavam de cócoras, o que facilitava ainda mais o parto natural. 


 Foto de Dona Teófila.
Acervo da Família

Dona Teófila também realizou muitos trabalhos de medicina preventiva. Em entrevista, seu filho Deonisio Vanderlinde relata: “Na época que minha mãe atuava como parteira, existia famílias muito pobres que se alimentavam somente a base de inhame. Devido à falta de consumo de outros alimentos, essas famílias tinham graves problemas saúde, principalmente problemas de estomago, intestino e desnutrição. Minha mãe aos poucos foi introduzindo alguns alimentos que serviram de tratamento para essas famílias”.
Teófila Michels Vanderlinde é um exemplo a ser seguido, uma mulher com inúmeras qualidades e com história de vida fantástica. A madrinha Teófila como muitos a chamavam, sempre levava balinhas nos bolsos para distribuir para as crianças; tratava a todos com muito amor e carinho, algo incomum nos dias de hoje. Infelizmente, Dona Teófila faleceu muito jovem, aos 59 anos de idade devido aos problemas de saúde oriundos de seus anos de doação como parteira.