quinta-feira, 17 de novembro de 2016

LENDAS E CRENDICES DO CAMPO DOS PADRES


Prof. José Carlos Borges

A serra Catarinense é muito rica em lindas paisagens de tirar o folego, mas é também muito rico em histórias, lendas e crendices populares. Um bom exemplo, são os mistérios que cercam a região do Campo dos Padres e arredores entre os municípios de Anitápolis e Urubici.

Uma região de encantar os olhos com paisagens europeias, repleta de cânions e cachoeiras, florestas de araucárias e nos campos cercados por taipas, (muros rústicos de pedra).

Entre as trilhas e pequenas estradas que cortam a região existe uma atmosfera misteriosa, repleta de energia e misticismo. As lindas paisagens exalam mistério. Tesouros escondidos nas lendas contadas pelos moradores mais antigos e tesouros da natureza, em forma, cânions riscados por cachoeiras, verdes vales a perder de vista, além disso construções e escritas de nossos antepassados estão presentes em diversos locais.


Uma das lendas que tornam a região tão misteriosa são os tesouros jesuítas. Baús, panelas e potes com barras de ouro e prata enterrados entre as montanhas dos Aparados da Serra Geral. As histórias passaram de geração em geração, caindo no imaginário popular, para muitos existem tesouros escondidos, somente esperando os felizes exploradores a encontrá-lo.

 De certa forma, essas crendices tem uma base histórica real, pois, os jesuítas foram expulsos do Brasil no século XVIII por ordem do Marquês de Pombal, antes de partirem, teriam enterrado parte do tesouro de suas ricas igrejas nas estâncias dos Campos de Cima da Serra, por medo de ser confiscado pelo governo. Essas histórias tornaram-se mais aceitas a partir da descoberta de algumas moedas e artefatos por fazendeiros locais.

Além disso, a lenda deu origem a vários relatos de fortunas enterradas por ricos fazendeiros em suas propriedades, verdade ou não, faz com que várias pessoas saiam a caça desses tesouros esquecidos.

Na região do Campo dos Padres e Encostas da Serra Geral também foi povoada por tribos indígenas xoclengues, conhecidos tradicionalmente por bugres. Existem várias lendas e relatos sobre conflitos entre indígenas e colonos, e até mesmo contatos, não tão pacíficos entre indígenas e jesuítas.

Com a chegada dos primeiros colonos na região, houve uma escassez de caça e alimentos como frutas e raízes, devido a coleta, caça e devastamento para agricultura, pastagem e instalações dos colonos. Com isso iniciaram as invasões dos bugres em propriedades em busca de alimentos, costumavam pegar qualquer tipo de alimento que encontravam. Porém alimentos que possuíam sal, era descartado, pensavam que estava estragado, pois não tinham nenhum contato com o mesmo.

Com essas frequentes invasões houve o surgimento dos bugreiros, rastreadores e matadores de índios, em nossa região os nomes mais conhecidos são Zé Domingos, João Domingos e Ireno Pinheiro.


Esse fato é a parte mais cruel da história de nossa região, pois os bugreiros eram contratados para matar os bugres; não importava se era criança ou adulto, todos deveriam morrer. Após o massacre o bugreiro retirava a orelha direita para provar que tinha feito o trabalho.

Em muitos locais, moradores afirmam que escutam barulhos e gritos de indígenas e relatam ter visto vultos, das almas inocentes que foram retiradas pelo homem dito “civilizado”.

Outra lenda local é a do “gritador”, um animal que segundo moradores locais vivia na região do Campo dos Padres e arredores. Um animal de grande porte, com um uivo apavorante e com patas tortas com formato de foice, que atacava o gado e outros animais.


Por décadas foram relatadas aparições e vestígios desse animal, especial por caçadores e moradores locais, tem pessoas que ainda afirmam que esse animal vive na região e tenta amedrontar os caçadores.

Outra lenda popular é a do Guardião da Montanha da Serra Geral, durante o dia o amontoado de pedras que se formou com a ação do tempo fica imperceptível perante os olhos humanos, mas no entardecer e amanhecer ele se revela, cuidando do vale encravado no paredão da Serra Geral, existe algo realmente místico.


Muitos falam que ele era o protetor das tribos indígenas que viveram naquela região, outros falam que é o protetor da Serra, e que fica vigiando toda ação do homem.

Por fim as crendices populares dos tropeiros, existem dezenas de história e relatos de trilhas, utensílios e moedas que foram encontradas por moradores e que pertenciam aos tropeiros.

 A região da Serra Geral é cortada por trilhas que ligavam o Planalto Serrano com o Vale do Braço do Norte e até mesmo a Capital Catarinense, por muitos anos serviu de passagem em um movimento de Monção, de venda e troca de animais e objetos.

São vários os relatos de carroças carregada de ouro e outros objetos que se perderam nas perigosas trilhas, além dos ataques de saqueadores e indígenas. Até hoje existem moradores que procuram frequentemente esses tesouros.

Grande parte dessas histórias não passam de crendices populares, relatos sem fundamentação histórica comprovada. Mas afinal de contas, o que torna a história tão interessante? É o simples fato dela ser comprovada por algum tipo de documento, ou dela ser contada através do tempo por meio de seus arranjos históricos/culturais.


“A HISTÓRIA É FEITA PELO HOMEM E PARA O HOMEM, A CADA QUAL FAZ SUA HISTÓRIA”.