COMBATE DA SERRA DA GARGANTA - 1930
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Com a derrota de Getúlio Vargas nas
eleições 1930, eclodiu uma insatisfação política que resultou em uma revolução
no Rio Grande do Sul que se alastrou por todo país. Insatisfeitos com o
resultado fraudulento das eleições de 30, os revolucionários com o apoio de
Minas Gerais partiram em outubro de 1930, rumo ao Rio de Janeiro, capital do
Brasil naquela época.
A ligação serrana entre a
capital catarinense e o estado do Rio Grande do Sul, era feita pela estrada da
Serra da Garganta que passava por Anitápolis, do contrário o trajeto teria que
feito costeando as praias.
Em 16 de outubro de 1930,
uma equipe de aproximadamente cem homens, comandados pelo Tenente Fábio Silva,
armados e entrincheirados resolveram conter o avanço das Tropas Getulistas ao
fazerem a travessia da Serra Garganta (Município de Anitápolis).
Fábio Silva na verdade era um simples civil
que foi nomeado pelo governo do estado na época devido ao conhecimento com
munícipes da região, pois ele era um empreiteiro responsável pela abertura/
alargamento da estrada entre os municípios de Anitápolis, Santa Rosa de Lima e
Rio Fortuna; e por esse motivo conhecia muitas pessoas, ou seja, possíveis
soldados.
Entre as pessoas que
foram recrutadas muitos desses nem sabiam do que se tratava, somente lhes fora
dito que os homens que viriam da região sul eram perigosos bandidos e
saqueadores.
Sabe-se que o governo
catarinense praticamente obrigou a participação dos munícipes nesse processo,
tanto pelas suas omissões de informação quanto pelo seu lema imponente,
relatado no livro o Vale do Braço do Norte, escrito por (Pe João Leonir
Dall’alba, 1973, pag. 343) que traz a seguinte frase do então nomeado Tenente
Fábio Silva: “Quem não vem por bem, vai no laço”.
Com esforço o tenente
conseguiu juntar em torno de (60) sessenta homens a paisana, com mais alguns
militares da brigada da capital (Florianópolis) sob o comando do Tenente Mira,
totalizando um total de um pouco mais de 100 soldados. Os combatentes receberam
fuzis winchester e mauser, além de 03 metralhadoras. Em uma das curvas da
estrada foi montado uma trincheira com troncos de xaxim, esse era o local onde
se concentrava o maior numero de soldados. Em outros dois locais, próximo a
trincheira, foram distribuídos dois piquetes com 15 soldados.
Com a manobra imposta
pelo governo catarinense, os civis anitapolitanos e recrutas da região posicionaram-se
em local estratégico, o grupo possuía um domínio visual amplo de toda a Serra
da Garganta, a vitória seria certa.
Devido às dificuldades
oferecidas pela natureza os legalistas se descuidaram da retaguarda, foi nesse
descuido que os getulistas guiados por dois bugreiros exímios conhecedores das
matas surpreenderam legalistas entrincheirados e desprevenidos. Os bugreiros Zé
e João Domingos foram contratados pelos getulistas, após saberem da emboscada
na região da Serra da Garganta.
Apesar do combate, as tropas getulistas não
enfrentaram grande resistência na passagem pelo estado catarinense, em
Araranguá tomaram o trem, em Criciúma, Tubarão, Gravatal e Armazém e demais
municípios da região tomavam as prefeituras e os comércios.
Seguindo ordens do governo, foram retiradas
pontes e rolado grandes pedras no caminho para atrapalhar a passagem das tropas
revolucionarias. Entretanto os getulistas não enfrentaram grandes desafios até
chegarem ao Núcleo Colonial de Anitápolis, com uma tropa de 1200 soldados,
entre eles 35 oficiais, todos sob o comando do General Assis Brasil.
Sálvio Brasil relata no
livro o Vale do Braço do Norte, que pouco antes do combate teria ouvido tiros,
achou que fossem os oficiais legalistas testando as armas ou até mesmo a
coragem dos anitapolitanos, mas ao virar-se viu os lenços vermelhos a descerem
pela encosta íngreme.
Ele relata que ainda tentou se refugiar mais
foi atingido no ombro, enquanto ferido ao chão pode ver o massacre, e a coragem
de um concidadão anitapolitano chamado Angelino Marques cozinheiro do pelotão,
o último a se entregar que apesar de muito ferido, deixou de atirar com sua
carabina, somente depois de receber uma rajada de metralhadora em seu peito.
Entre os mortos e feridos
do Combate da Garganta não podemos relatar um número exato, pois os fatos se
desencontram através dos telegramas enviados.
No primeiro telegrama
enviado para Getúlio Vargas, é relato que o combate durou cerca de duas horas
consumindo “dois mil quinhentos quarenta e sete cartuchos Mauser”. Como
resultado verificou o major “se acharem mortos seis ocupantes das aludidas
trincheiras, e aprisionados trinta e três, dentre os quais o capitão Fábio
Silva e segundo tenente Romão Mira de Araújo, dois sargentos e doze soldados,
todos pertencentes à Força Pública de Santa Catarina, sendo os demais civis, dos
quais três foram feridos”.
O mesmo major que
registra o acontecimento em outro telegrama no dia 17/10 ao seu comandante em
Porto Alegre dizendo: “Tomei trincheiras da Serra Anitápolis, lugar denominado
Garganta. Inimigo tomado de surpresa espavoriu-se, ganhando o mato. Conseguimos
fazer trinta e dois prisioneiros, ficando quinze mortos e seis feridos”.
Após o combate os
soldados anitapolitanos foram levados ao acampamento revolucionário, onde foram
bem tratados, cuidaram de seus ferimentos e os alimentaram. Alguns foram
levados até Florianópolis, onde permaneceram por um tempo encarcerado, outros
fugiram e por dias ficaram perdidos na mata.
Com o fim do Combate da
Garganta e após as Tropas Revolucionárias consolidarem a revolução, Anitápolis
é esquecido pela administração publica estadual, o Patronato Agrícola é retirado
do local, e o município foi privado de quase todos os meios de comunicação
exceto a agência postal.
Através dessas medidas o núcleo foi aos poucos
se desfazendo, os lotes desvalorizando, as dividas aumentando o que ocasionou
em um processo de êxodo do Núcleo.
Atualmente a região onde
ocorreu o combate está sofrendo as consequências do abandono, os mortos que foram
enterrados em uma das curvas da Serra da Garganta foram retirados e sepultados
em cemitérios da região. E os combatentes mortos são relembrados através de uma
cruz e uma placa em homenagem as combatentes.