sexta-feira, 2 de julho de 2021

PATRONATO AGRÍCOLA DE ANITÁPOLIS



Foto: Patronato de Anitápolis

Fonte: Iberoamerikanisches Institut, em Berlim

A foto original encontra-se no Iberoamerikanisches Institut, em Berlim. (Contribuição do Professor Valberto Dirksen).


No ano de 1918, após o fracasso da Colonização, o Governo Federal resolveu criar na região de Anitápolis o Patronato Agrícola vinculado com uma escola. Os reais motivos desta escolha são desconhecidos, talvez devido ao isolamento e a salubridade ofertada pela região ou até mesmo o insucesso na permanência dos colonizadores.

O Patronato Agrícola de Anitápolis foi criado através do Decreto nº 12.893, do dia 28 de fevereiro de 1918, seguia as deliberações do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (MAIC). O patronato tinha como base curricular/escolar o projeto de um Brasil moderno, voltado à ideologia do trabalho. Funcionava basicamente como um reformatório/escola para os jovens infratores retirados da rua, em especial das ruas do Rio de Janeiro e Florianópolis; em seguida eram abrigados na instituição.

A primeira turma era composta por 200 jovens com idade entre 11 e 18 anos. Os internos viviam em um regime militar e não tinham para onde fugir, pois quase tudo ao seu redor era floresta. Mesmo com a dificuldade de fuga impostas pelas barreiras naturais, houve algumas fugas de jovens como podemos ver nesse oficio de 1919:

Tendo o Sr. Luiz Rocha, colono da Seção Povoamento, deste Núcleo, capturado os educandos nº. 1, 89, 42, evadidos deste estabelecimento e os conduzido a esta sede com não pequeno trabalho, no sentido de despertar interesse dos colonos e impedir a facilidade da fuga dos nossos educandos, autorizei o Sr. José Henrique Wagner, a indenizar o valioso trabalho do Sr. Rocha, com a quantia de 20$000 (vinte mil réis) (BOEIRA apud ARQUIVO MUNICIPAL DE ANITÁPOLIS, 1919).

O escritor e pesquisador Daniel Alves Boeira, em seu trabalho O Patronato Agrícola de Anitápolis (SC): O núcleo colonial, os “menores” e a comunidade (1918-1930), transcreve a notícia sobre recompensas na captura de menores, que se ampliou por todas as seções do Núcleo Colonial Anitápolis e municípios próximos. Este “reforço” era bem vindo, principalmente nos primeiros anos, período em que as fugas eram mais intensas. Como podemos apurar no ofício a seguir:

“Cumpre-me comunicar a V.Exa. que os referidos educandos foram presos em Tubarão, neste Estado, e serão oportunamente recolhidos ao Patronato, segundo me comunica o Sr. Dr. João de Oliveira, Delegado de Polícia da 3ª Região” (BOEIRA apud ARQUIVO MUNICIPAL DE ANITÁPOLIS, 1920).

Além do auxílio de alguns moradores do núcleo, a instituição era composta por uma equipe de feitores, diretor, professores, cozinheiros, médico, farmacêutico, dentista, guardas, conselheiros e vigias. O primeiro diretor do Patronato e do Núcleo Colonial ao mesmo tempo, que se tem notícia foi Edgar da Cunha Carneiro, logo após seus sucessores foram Samuel Gomes Pereira, Jorge Benedito do Nascimento e Afonso Carneiro da Veiga.

Os primeiros professores a lecionarem junto à escola e ao Patronato foram D. Sarita, D. Ernestina e D. Nila. O reformatório tinha um horário rígido para a aula teórica, práticas e trabalho na agricultura, tudo era regido militarmente pela corneta, o trabalho era duro e todos aprendiam um oficio. Pergentino Muniz foi um dos que trabalhou como feitor da escola, ele acompanhava os adolescentes nas aulas pratica nas lavouras.

Com o sucesso do Patronato através de suas medidas socioeducativas, a demanda tornou-se cada vez maior. As pressões para o internamento dos menores eram cada vez maiores, inclusive foram enviados jovens com maior idade, causando a insatisfação dos administradores da instituição.

Apesar de toda dificuldade enfrentada em sua implantação e com a chegada de alguns menores, nos últimos anos a educação do patronato tinha melhorado muito. Um de seus diretores chegou a abolir a cadeia, assim como os açoites. Os rapazes estavam contentes, recuperavam-se e aprendiam uma profissão. Muitos desses jovens, após o processo de reabilitação, constituíram família e permaneciam em Anitápolis.

Os educandos que atingissem a maioridade e que tivessem concluído o curso do Patronato com bom rendimento e disciplinados, teriam direito a um certificado de capacidade, firmado pelo diretor, garantindo igualdade de condições, nos cargos das diversas dependências do Ministério. Além do mais, os educandos que concluísse a aprendizagem de forma notável, receberiam gratuitamente um dos lotes disponíveis no Núcleo e a importância de 200$.

Outros jovens, caso desejassem complementavam seus estudos no Patronato de Passa Quatro em Minas Gerais, também conhecido como Patronato Campos Sales, lá os mesmos poderiam se tornar feitor, engenheiro agrimensor entre outras profissões.

O Patronato Agrícola de Anitápolis era um sucesso, tudo funcionava muito bem até o ocorrido de 1930, o conflito armado denominado Combate da Garganta. Com a represália dos anitapolitanos contra o governo getulista, seria evidente que ao tomar o poder o novo presidente puniria os seus opositores, com isso Anitápolis cai no esquecimento político, até sua emancipação em 1961. Foi cortada a maioria das verbas públicas e retirado à escola do Patronato da região, fazendo com o município ficasse estagnado economicamente por muitos anos.


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