terça-feira, 3 de fevereiro de 2015


ANITÁPOLIS ENTRE VALES E MONTES

Anitápolis é um pequeno município situado entre as encostas da Serra Geral e o Vale do Braço do Norte, riquíssimo em cultura e belezas naturais, encanta a todos com suas belas paisagens e seu povo hospitaleiro.

FIGURA: Anitápolis, construção do Núcleo Colonial.
FONTE:< http://www.anitapolis.sc.gov.br/conteudo/?item=17886&fa=891#>

No ano de 1907 inicia o processo de colonização do município de Anitápolis, que serviria de Núcleo Colonial aos imigrantes europeus. O governo descobriu por fontes confiáveis que havia terras produtivas na região, então contratou um desbravador cearense chamado Cícero Rodrigues Brasil, um hábil conhecedor das matas catarinenses.

            Pouco tempo após sua contratação, Cícero havia desbravado boa parte da região, fundado a sede do núcleo e divido a região em várias secções, todas herdaram nomes de rios da região, Rio do Ouro, Rio da Prata entre outros. Em um primeiro momento o Núcleo passou a chamar-se Núcleo Colonial Lauro Muller, em homenagem a importante figura política do cenário catarinense, após algum tempo a região passou a se chamar Núcleo Colonial Rio da Prata, em homenagem ao rio da região que possui um aspecto cristalino. Por fim a região passou a se chamar Núcleo Colonial Anitápolis em homenagem a heroína dos dois mundos Anita Garibaldi.

            Logo após a fundação do núcleo chegaram os primeiros moradores, entre os esses podemos destacar as importantes figuras de Pergentino Muniz, José Jacó Gedert e o Dr. Cisenando Mattos. O núcleo era comandado pelo engenheiro-agrimensor Dr. Cisenando autoridade local suprema, que comandava todas as ações do núcleo, e a este cabia distribuir as terras e orientar as atividades agrícolas dos imigrantes, além de recolher os pagamentos e organizar demais atividades do núcleo.

            Com o passar dos anos o núcleo melhora a infraestrutura e prospera, então no ano de 1911, começa a chegada das grandes concentrações de imigrantes na região, esses vinham de todas as regiões da Europa, tais como: Alemanha, Polônia, Espanha, Letônia, Rússia, Tchecoslováquia, Inglaterra e Finlândia, assim predominando a cultura alemã.

            Os imigrantes vinham de navio até o Rio de Janeiro, então eram enviados em embarcações menores para Florianópolis. A partir desse momento eram quatro dias de viagem em caravanas em cima de carros de boi e mulas, até chegarem ao núcleo colonial. Em plena a eclosão da Primeira Guerra Mundial, o fluxo migratório aumentou e o núcleo colonial por vários anos passou receber mais de uma família por dia.

            No ano de 1915, surgem as primeiras dificuldades enfrentadas pelos imigrantes, tudo isso devido aos conflitos corriqueiros com os nativos (bugres), falta de conhecimento no cultivo das terras e o difícil acesso as regiões montanhosas, ocasionando um alto índice de abandono de terras. Além disso, os imigrantes em sua maioria eram ferreiros, carpinteiros, artesões, mineiros entre outras profissões, tinham pouco conhecimento agrícola, o que ocasionou a migração para outras regiões, como a região de Criciúma, onde trabalharam como construtores e mineiros e a região de Ituporanga, onde encontraram terras mais produtivas e menos acidentadas para o desenvolvimento da agricultura.

            Com o fracasso da colonização por imigrantes, o Governo Federal decide o Patronato Agrícola vinculado com uma escola. Esta instituição funcionava como um centro reformatório para jovens infratores retirados da rua, em especial jovens das ruas e abrigos do Rio de Janeiro. Os internos tinham entre 11 e 18 anos, viviam em regime militar, tinham aulas teóricas e práticas onde todos aprendiam um oficio.

FIGURA: Prédio do Patronato Agrícola de Anitápolis
FONTE:< http://www.anitapolis.sc.gov.br/conteudo/?item=17886&fa=891>

Devido à implantação do Patronato Agrícola, o Governo Federal começa a olhar bons olhos para Núcleo Colonial de Anitápolis, aplicando muita verba e fazendo com a região prosperasse novamente. Para termos noção da importância desses investimentos, entre os anos de 1916 a 1930, o que eram antes trilhas, tornaram-se estradas, recebemos tecnologias inexistentes em algumas regiões da época, tais como: linha telefônica Anitápolis/Florianópolis, telégrafo de ultima geração, cinema improvisado, entre outros benefícios.

FIGURA: Monumento do Combate da Garganta
FONTE: http://www.anitapolis.sc.gov.br/conteudo/?item=29183&fa=891

            Tudo fluía muito bem até a data de 16 de outubro de 1930, com a derrota de Getúlio Vargas nas eleições de 1930, eclodiu uma insatisfação politica que resultou em um Golpe de Estado. Insatisfeitos, parte dos revolucionários gaúchos viajaram por mar em direção ao Rio de Janeiro, capital do Brasil naquela época. Outro contingente marchou em direção a capital catarinense, a única ligação do Sul do estado com a capital Florianópolis era feita pela Serra da Garganta em Anitápolis. Ludibriados pelo governo, moradores do núcleo, juntamente com soldados de Florianópolis armaram um cerco para conter o avanço dos legalistas. Os gaúchos souberam da emboscada e atacaram de surpresa contornando a montanha, onde o ocorreu o combate.


FIGURA: Anitápolis- 1950
FONTE: <http://www.anitapolis.sc.gov.br/conteudo/?item=17886&fa=891>

Após essa ofensiva e com o consolidamento da revolução, Anitápolis foi riscado do mapa, o Patronado foi transferido para outra região e nossos meios de comunicação por vários anos se restringiram somente a agência postal. Em questão de anos o núcleo aos poucos foi se desfazendo, os lotes desvalorizaram, as dividas aumentaram e a emigração do núcleo foi significativa. A região voltou a receber recursos e financiamento somente após sua emancipação em 1961, através da Lei 789/61 elevando assim a categoria de município.

Atualmente Anitápolis possui pouco mais de 3 600 habitantes, menos da metade dos moradores da época em que era Núcleo Colonial, as principais economias do município são os aviários e agricultura, tem um grande potencial turístico e encanta a todos com suas belas naturais e seu povo hospitaleiro.

REFERÊNCIAS

DALL’ ALBA, João Leonir. O Vale do Braço do Norte. Orleans, SC: Ed. do Autor, 1973.

LEMOS, Valmir. Tombados e Esquecidos. Blumenau, SC: Ed. Nova Letra,2003.

3 comentários:

  1. Olá, Professor Zeka. Prabéns pelo trabalho de divulgar a história de Anitápolis.
    Sou bisneta de Cícero Rodrigues Brasil e neta de Salvio Rodrigues Brasil, que foi considerado herói da Garganta (1930).
    A família Brasil é muito grande. A maioria mora em Florianópolis.
    Eu moro em São Paulo e ano passado estivemos em Anitápolis junto minha mãe, que foi homenageada pelos alunos da Escola Municipal, que tem feito um belo trabalho de recuperação da história de Anitápolis. Foi aprovado a colocação de dois bustos (Cícero e Salvio) na praça. Dos doze filhos de Salvio Brasil, oito ainda estão vivos. Ficamos muito felizes pela divulgação do nome dos nossos antepassados que, de alguma forma, contribuíram para a história de Santa Catarina. abraço.

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  2. Professor seja!
    Minha história, no Brasil, inicia com a vinda da família Thiede em 1909, da cidade de Magdeburg, Alemanha. O navio Frisia, foi o seu meio de transporte. Estavam na lista de passageiros, o casal Thiede e seus 3 filhos, Johanne (minha avó paterna), Suzanne e Karl. Foram assentados em Anitapolis-SC. Qualquer informação que agregue à essa história, seria Para mim, de suma importância.
    Muito obrigado!

    c.albertocordeiro1956@gmail.com

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